30 de outubro de 2013

Olhares

Eis que, comparando três traduções de uma tira da Mafalda, eu paro para pensar nos sentidos possíveis de “sair e ser livre” e “sair e ficar livre”, que diferença essa escolha faria numa tradução? Como no texto fonte em espanhol (digamos, texto original numa perspectiva mais logocêntrica) está “salir y ser livre”, vou classificar “ser livre”, na tradução, como uma tradução literal. Já, “ficar livre” me deixou pensativa, seriam sinônimos interlinguísticos? Pois bem, o são. Segundo as modalidades de tradução (AUBERT, 1998), portanto “ficar livre” também será classificado como uma tradução literal. [Parabenizo aqueles que chegaram até aqui e pretendem prosseguir]. Mas não era isso que eu queria comentar. Me interessei mais em divagar meus pensamentos. Pensar sobre o “ser” e o “ficar”. Tenho pensado bastante sobre isso, sobre “ser”. O verbete do dicionário me diz “2. Indivíduo humano, pessoa. 3. O mais íntimo e essencial do humano”. O que ele sabe sobre isso? O mais íntimo e essencial do humano. E eu o retruco, o que é essencial do humano? Nada. O “ser”, pra mim, tem um quê de peremptório. Por isso estimo mais o “ficar”. O ficar é uma condição dissolúvel, o ficar é “tornar-se, fazer-se”, ou “converter-se em”, ou “vir a ser”, ou “permanecer em determinada situação, em determinado estado de espírito”. Eu não sou, eu fico. Eu não sou, eu estou. Não se é o mesmo sempre. Não se é o mesmo nunca. Olhares detidos e desatentos podem se confundir. Há tempo.