Eis que, comparando
três traduções de uma tira da Mafalda, eu paro para pensar nos sentidos possíveis
de “sair e ser livre” e “sair e ficar livre”, que diferença essa escolha faria
numa tradução? Como no texto fonte em espanhol (digamos, texto original numa
perspectiva mais logocêntrica) está “salir y ser livre”, vou classificar “ser
livre”, na tradução, como uma tradução literal. Já, “ficar livre” me deixou
pensativa, seriam sinônimos interlinguísticos? Pois bem, o são. Segundo as
modalidades de tradução (AUBERT, 1998), portanto “ficar livre” também será
classificado como uma tradução literal. [Parabenizo aqueles que chegaram até
aqui e pretendem prosseguir]. Mas não era isso que eu queria comentar. Me
interessei mais em divagar meus pensamentos. Pensar sobre o “ser” e o “ficar”.
Tenho pensado bastante sobre isso, sobre “ser”. O verbete do dicionário me diz “2. Indivíduo
humano, pessoa. 3. O mais íntimo e essencial do humano”. O que ele sabe
sobre isso? O mais íntimo e essencial do humano. E eu o retruco, o que é
essencial do humano? Nada. O “ser”, pra mim, tem um quê de peremptório. Por
isso estimo mais o “ficar”. O ficar é uma condição dissolúvel, o ficar é “tornar-se,
fazer-se”, ou “converter-se em”, ou “vir a ser”, ou “permanecer em determinada
situação, em determinado estado de espírito”. Eu não sou, eu fico. Eu não sou,
eu estou. Não se é o mesmo sempre. Não se é o mesmo nunca. Olhares detidos e desatentos
podem se confundir. Há tempo.
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